Casas da arte popular
Peças de Mestre Vitalino, d.
Isabel e GTO ganham destaque na decoração
Karine
Tavares
Roda de
samba do carioca Adalton. Obra fica no bar da galerista Ana Chindler, onde há
também peças de Mestre VitalinoMônica Imbuzeiro
Rio - Com
barro, madeira e imaginação, e sem qualquer erudição, eles moldaram obras que
de tão brasileiras se tornaram conhecidas, simplesmente, como arte popular.
Ainda assim, talvez por seu estilo um tanto rústico, as peças criadas por
artistas como o pernambucano Mestre Vitalino e os mineiros GTO e d. Isabel, do
Vale do Jequitinhonha, foram, por muito tempo, relegadas a espaços como
varandas, áreas externas e casas de veraneio. Agora, esses artistas e seus
seguidores, que traduziram em seus trabalhos a simplicidade de suas origens,
vêm conquistando cada vez mais espaço em salas de estar e dividindo paredes e
prateleiras, tanto com a arte popular de outros países da América Latina,
quanto com nomes da arte contemporânea.
Inseridas
na decoração, as peças também se misturam aos mais diferentes estilos. No
apartamento da psicóloga Paulete Frajhof, no Alto Leblon, elas estão entre os
livros e objetos em prateleiras que percorrem o imóvel. Já no do casal Shepard
e Leona Forman, são os destalhes que mais chamam atenção. Ali, onde predominam
móveis das décadas de 1950 e 1960 — comprados por eles em antiquários, quando
se mudaram para o prédio art déco em Copacabana —, está parte da coleção de
arte popular brasileira adquirida em viagens pelo interior e galerias do
gênero.
— Tudo no
apartamento é brasileiro. Menos eu — brinca Forman, que é americano e foi o
primeiro do casal a se apaixonar pela arte brasileira. — Em 1963, trabalhava na
Universidade de Indiana e me deram U$ 5 mil vir ao Brasil comprar peças para o
Museu do Folclore de lá.
Cinquenta
anos e muitas histórias depois, as peças adquiridas ao longo da vida estão hoje
em praticamente todos os cômodos do imóvel: tem quadro feito de latas, do
artista plástico Raimundo Rodriguez, de Nova Iguaçú; as famosas cabeças de
barro de Ulisses Pereira; um Tiradentes de madeira com cabeça decapitada e um
casal de girafas esculpido em raízes, comprado pela dupla no aniversário de 45
anos de casado.
— Essas
peças têm senso de humor e vitalidade. Não são só artesanato. Elas também
carregam a imaginação de quem as criou — acredita Leona.
— Para mim,
são a verdadeira expressão da cultura brasileira — emenda o marido, enquanto
mostra a estante da sala de TV desenhada exclusivamente para exibir algumas
dessas peças.
Na casa de
Ana Chindler, há algumas prateleiras, mas não estantes. Exatamente para evitar
o acúmulo “exagerado” de peças, tendência comum a colecionadores, como ela
costuma dizer.
Dona da
galeria Pé de Boi, Ana tem em casa um acervo particular que inclui esculturas
dos maiores nomes do gênero, lado a lado com serigrafias, e quadro do pintor
Manabu Mabe. Tudo em harmonia com um mobiliário tão eclético quanto: num canto,
um sofá inglês Chesterfield e cadeiras mexicanas ficam sobre um tapete persa;
em outro, móveis contemporâneos; no centro da sala, o bar, revestido de
azulejos portugueses originais e prateleiras com copos, garrafas e obras de
Mestre Vitalino; e na sala de jantar, um cocho (daqueles usados para alimentar
gado) faz as vezes de aparador. O resultado é um casa genuinamente brasileira:
— Arte é
prazer. Não precisa combinar com a decoração. Se você souber arrumar sua casa,
contar sua história, tudo combina. A única coisa que não combina é querer
contar a história do arquiteto — diz Ana, para quem a arte popular começou a
ganhar status há oito anos, após obras de Mestre Vitalino participarem de
leilões e de uma exposição de GTO chegar a Nova York.
Com isso,
aqueles U$ 5 mil da Universidade de Indiana não conseguiriam hoje comprar obras
representativas de nossa arte popular. As peças de madeira entalhada de GTO,
por exemplo, chegam a custar até R$ 50 mil. E as famosas noivas de d. Isabel
não custam menos de R$ 24 mil (as de até 90 centímetros de altura). Já as cenas
cotidianas criadas por Mestre Vitalino variam dos R$ 8 mil aos R$ 40 mil.
— O neto de
GTO continuou o trabalho do avô, assim como os filhos de Mestre Vitalino. D.
Isabel já quase não produz, mas modificou a economia do Vale do Jequitinhonha
e, depois dela, muitos outros artesãos surgiram e seguiram sua escola — diz
Ana, que vê o fenômeno se repetir em lugares onde surgiram outros nomes do
gênero. — Os sucessores trabalham para que a arte popular se perpetue. Onde tem
barro e madeira, tem gente para trabalhar.
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sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/imoveis/casas-da-arte-popular-8939600#ixzz2YGsjz4rE
Tomado de o globo de Brasil
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