sábado, 6 de julio de 2013

CASA DE ARTE POPULAR EN RÍO DE JANEIRO BRASIL

 Casas da arte popular
Peças de Mestre Vitalino, d. Isabel e GTO ganham destaque na decoração
Karine Tavares
Roda de samba do carioca Adalton. Obra fica no bar da galerista Ana Chindler, onde há também peças de Mestre VitalinoMônica Imbuzeiro
Rio - Com barro, madeira e imaginação, e sem qualquer erudição, eles moldaram obras que de tão brasileiras se tornaram conhecidas, simplesmente, como arte popular. Ainda assim, talvez por seu estilo um tanto rústico, as peças criadas por artistas como o pernambucano Mestre Vitalino e os mineiros GTO e d. Isabel, do Vale do Jequitinhonha, foram, por muito tempo, relegadas a espaços como varandas, áreas externas e casas de veraneio. Agora, esses artistas e seus seguidores, que traduziram em seus trabalhos a simplicidade de suas origens, vêm conquistando cada vez mais espaço em salas de estar e dividindo paredes e prateleiras, tanto com a arte popular de outros países da América Latina, quanto com nomes da arte contemporânea.
Inseridas na decoração, as peças também se misturam aos mais diferentes estilos. No apartamento da psicóloga Paulete Frajhof, no Alto Leblon, elas estão entre os livros e objetos em prateleiras que percorrem o imóvel. Já no do casal Shepard e Leona Forman, são os destalhes que mais chamam atenção. Ali, onde predominam móveis das décadas de 1950 e 1960 — comprados por eles em antiquários, quando se mudaram para o prédio art déco em Copacabana —, está parte da coleção de arte popular brasileira adquirida em viagens pelo interior e galerias do gênero.
— Tudo no apartamento é brasileiro. Menos eu — brinca Forman, que é americano e foi o primeiro do casal a se apaixonar pela arte brasileira. — Em 1963, trabalhava na Universidade de Indiana e me deram U$ 5 mil vir ao Brasil comprar peças para o Museu do Folclore de lá.
Cinquenta anos e muitas histórias depois, as peças adquiridas ao longo da vida estão hoje em praticamente todos os cômodos do imóvel: tem quadro feito de latas, do artista plástico Raimundo Rodriguez, de Nova Iguaçú; as famosas cabeças de barro de Ulisses Pereira; um Tiradentes de madeira com cabeça decapitada e um casal de girafas esculpido em raízes, comprado pela dupla no aniversário de 45 anos de casado.
— Essas peças têm senso de humor e vitalidade. Não são só artesanato. Elas também carregam a imaginação de quem as criou — acredita Leona.
— Para mim, são a verdadeira expressão da cultura brasileira — emenda o marido, enquanto mostra a estante da sala de TV desenhada exclusivamente para exibir algumas dessas peças.
Na casa de Ana Chindler, há algumas prateleiras, mas não estantes. Exatamente para evitar o acúmulo “exagerado” de peças, tendência comum a colecionadores, como ela costuma dizer.
Dona da galeria Pé de Boi, Ana tem em casa um acervo particular que inclui esculturas dos maiores nomes do gênero, lado a lado com serigrafias, e quadro do pintor Manabu Mabe. Tudo em harmonia com um mobiliário tão eclético quanto: num canto, um sofá inglês Chesterfield e cadeiras mexicanas ficam sobre um tapete persa; em outro, móveis contemporâneos; no centro da sala, o bar, revestido de azulejos portugueses originais e prateleiras com copos, garrafas e obras de Mestre Vitalino; e na sala de jantar, um cocho (daqueles usados para alimentar gado) faz as vezes de aparador. O resultado é um casa genuinamente brasileira:
— Arte é prazer. Não precisa combinar com a decoração. Se você souber arrumar sua casa, contar sua história, tudo combina. A única coisa que não combina é querer contar a história do arquiteto — diz Ana, para quem a arte popular começou a ganhar status há oito anos, após obras de Mestre Vitalino participarem de leilões e de uma exposição de GTO chegar a Nova York.
Com isso, aqueles U$ 5 mil da Universidade de Indiana não conseguiriam hoje comprar obras representativas de nossa arte popular. As peças de madeira entalhada de GTO, por exemplo, chegam a custar até R$ 50 mil. E as famosas noivas de d. Isabel não custam menos de R$ 24 mil (as de até 90 centímetros de altura). Já as cenas cotidianas criadas por Mestre Vitalino variam dos R$ 8 mil aos R$ 40 mil.
— O neto de GTO continuou o trabalho do avô, assim como os filhos de Mestre Vitalino. D. Isabel já quase não produz, mas modificou a economia do Vale do Jequitinhonha e, depois dela, muitos outros artesãos surgiram e seguiram sua escola — diz Ana, que vê o fenômeno se repetir em lugares onde surgiram outros nomes do gênero. — Os sucessores trabalham para que a arte popular se perpetue. Onde tem barro e madeira, tem gente para trabalhar.
Tomado de o globo de Brasil

No hay comentarios: